"No Brasil, a elite encaminhou as coisas para ser elite,
desprezando o povo e assim pensa que se moderniza:
desprezando ou não sabendo que a chamada
modernização passa pela destruição dela própria.
A única maneira de essa elite encontrar
uma racionalidade
é deixar de ser elite e tornar-se cidadã".
Raymundo Faoro

Seja Bem-Vindo

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O ensino centrado no aprendizado dos alunos

Como nós ensinamos depende inicialmente de como entendemos o significado de ensinar. Todos os professores tem alguma teoria sobre o que é ensinar que normalmente é alterada ao longo da carreira. Contudo, mesmo quando não estão conscientes das teorias pedagógicas, sua atitude repercute profundamente no tipo de atmosfera criada para o aprendizado.

São identificados três níveis distintos do ensinar: 1)Ensino focado no que o estudante é - normalmente leva em consideração somente a diferença entre os bons e maus estudantes; 2) Ensino focado no que o professor faz - ensino centrado no professor e o aprendizado está relacionado a atitude do professor para transmitir a informação; e 3) Ensino focado no que os estudantes fazem - ensino centrado no estudante onde o importante é o que o aluno aprende e como este aprendizado se relaciona ao ensinar. Os dois primeiros são pouco efetivos e são modelos de culpa. No terceiro, o professor dá suporte ao aprendizado do aluno, não sendo mais possível usar frases do tipo: "eu os ensinei mas eles não aprenderam"; o foco está no que os estudantes fazem e como entenderam os objetivos do aprendizado. (Texto baseado em Biggs J. & Tang Catherine. Teaching for quality learning at university. 3rd ed. Open University Press, McGraw Hill, 2007

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ensino Superior, uma visão particular.

Dentro do atual cenário educacional podemos destacar dois pontos principais que serviriam como arcabouço no processo de verticalização do ensino superior: a estruturação dos cursos universitários e a forma de ensino.
Na área biológica e da saúde existe uma grande oferta de cursos de pós-graduação (PG), porém não existem, na mesma proporção, cursos de graduação que alimentem esses cursos. O que existe são cursos profissionais regulares onde alguns alunos, por interesse, por oportunidade, ou por falta de mercado de trabalho, se dirigem aos cursos de pós-graduação. Neste cenário surgiram nas décadas de 60-70, no Estado de São Paulo, cursos de Ciências Biológicas-modalidade médica, pioneiramente idealizados com o objetivo de criar profissionais capacitados para exercer a docência e a pesquisa nas áreas básicas da saúde. Estes cursos que oferecem em sua estrutura curricular sólida base científica e estágio obrigatório de pelo menos 1 ano em laboratório de pesquisa, cumpriram um importante papel na geração de novos docentes e pesquisadores em várias universidades deste país. O fantástico desenvolvimento na compreensão dos mecanismos neurobiológicos subjacentes ao processo de aprendizado e memória não tem proporcionado sua imediata utilização no ensino universitário. A falta de uma estrutura curricular que privilegie a aquisição ativa do conhecimento, a retenção em memória de longo prazo, a geração de curiosidade intrínseca e a motivação para educação continuada, tem se constituído no grande desafio do sistema educacional. Assim, a estrutura pedagógica desenvolvida na maioria das escolas promove um aprendizado pela quantidade dos conteúdos e não pela qualidade. Cargas didáticas imensas são oferecidas com várias sobreposições de conteúdos, totalmente divorciadas do contexto profissional. Contudo, em um país onde a média populacional de tempo de estudo é de 5,7 anos, todo esforço no sentido de aumentar a oferta de ensino com qualidade deve ser realizado. Não basta criar cursos em profusão para que se estabeleça o processo de verticalização do ensino superior. Há que se contemplar formas e conteúdos que aumentem o interesse do aluno em permanecer por um tempo maior dentro das instituições, como forma de manter atualizados conhecimentos para um melhor exercício profissional.

domingo, 24 de maio de 2009

Mecanismos Neurobiológicos dos Placebos

Neurobiological mechanisms of placebo responses.
Zubieta JK, Stohler CS.
Ann N Y Acad Sci. 2009 Mar;1156:198-210.
Department of Psychiatry and Molecular and Behavioral Neuroscience Institute, University of Maryland, Baltimore, USA. zubieta@umich.edu

Expectations, positive or negative, are modulating factors influencing behavior. They are also thought to underlie placebo effects, potentially impacting perceptions and biological processes.

We used sustained pain as a model to determine the neural mechanisms underlying placebo-induced analgesia and affective changes in healthy humans. Subjects were informed that they could receive either an active agent or an inactive compound, similar to routine clinical trials. Using PET and the mu-opioid selective radiotracer [(11)C]carfentanil we demonstrate placebo-induced activation of opioid neurotransmission in a number of brain regions. These include the rostral anterior cingulate, orbitofrontal and dorsolateral prefrontal cortex, anterior and posterior insula, nucleus accumbens, amygdala, thalamus, hypothalamus, and periaqueductal grey. Some of these regions overlap with those involved in pain and affective regulation but also motivated behavior. The activation of endogenous opioid neurotransmission was further associated with reductions in pain report and negative affective state. Additional studies with the radiotracer [(11)C]raclopride, studies labeling dopamine D2/3 receptors, also demonstrate the activation of nucleus accumbens dopamine during placebo administration under expectation of analgesia. Both dopamine and opioid neurotransmission were related to expectations of analgesia and deviations from those initial expectations. When the activity of the nucleus accumbens was probed with fMRI using a monetary reward expectation paradigm, its activation was correlated with both dopamine, opioid responses to placebo in this region and the formation of placebo analgesia. These data confirm that specific neural circuits and neurotransmitter systems respond to the expectation of benefit during placebo administration, inducing measurable physiological changes.

The placebo treatments in neurosciences: New insights from clinical and neuroimaging studies.
Diederich NJ, Goetz CG.
Neurology. 2008 Aug 26;71(9):677-84.
Department of Neurosciences, Centre Hospitalier de Luxembourg, 4, rue Barblé, L-1210 Luxembourg City, Luxembourg. diederdn@pt.lu

Placebo (PL) treatment is a method utilized as a control condition in clinical trials. A positive placebo response is seen in up to 50% of patients with Parkinson disease (PD), pain syndromes, and depression. The response is more pronounced with invasive procedures or advanced disease. Physiologic and biochemical changes have been studied in an effort to understand the mechanisms underlying placebo-related clinical improvement. In PD, objective clinical improvements in parkinsonism correlate with dopaminergic activation of the striatum, documented by PET and with changes in cell firings of the subthalamic nucleus documented by single cell recordings. Dopaminergic pathways mediating reward may underlie PL-mediated improvement in PD. In pain syndromes, endogenous opioid release triggered by cortical activation, especially the rostral anterior cingulated cortex, is associated with PL-related analgesia and can be reversed by opioid antagonists. Covert treatment of an analgesic is less effective than overt treatment, suggesting an expectation component to clinical response. In depression, PL partially imitates selective serotonin reuptake inhibitor-mediated brain activation. Diseases lacking major "top-down" or cortically based regulation may be less prone to PL-related improvement.

sábado, 23 de maio de 2009

Eu, primata - Frans de Waal



Uma dica excelente para leitura.

Cada época oferece à humanidade sua própria distinção. Nós nos consideramos especiais e estamos sempre em busca da confirmação dessa singularidade. Talvez a primeira delas tenha sido a definição do homem, por Platão, como a única criatura sem pêlos que anda com duas pernas. Isso pareceu absolutamente correto até que Diógenes soltou uma galinha depenada no salão de conferência e ironizou: "Eis o homem de Platão". Dali por diante, a definição de Platão incluiu "e que tem unhas largas".

Homem, o fabricante de ferramentas - Chimpanzé fazem esponjas com folhas mascadas ou varas com galhos de árvores. Corvos curvam arames para fazer um gancho para pescar comida em uma garrafa.

O Homem possui comunicação simbólica através da linguagem - Grandes primatas não humanos possuem habilidades de linguagem de sinais.

Os humanos tem empatia (ver da perspectiva do outro - Uma chimpanzé chamada Sarah, quando lhe davam fotografias para escolher, preferia a de uma chave quando via uma pessoa se esforçar para abrir uma porta fechada.

domingo, 10 de maio de 2009

O Ambiente Universitário

As manifestações recebidas no post sobre Prêmios Universitários e todas que serão recebidas neste Blog servirão para consolidar ideias a respeito da Ciência e da Cidadania. Espero poder defendê-las em manifestações públicas ou em colegiados universitários dos quais faço parte.

Sendo assim, gostaria de iniciar este segundo post fazendo alguns comentários a respeito do primeiro post. O gráfico que apresentei colocou um assunto bastante interessante que permeia a nossa carreira de professor. A predileção pelos melhores alunos em detrimento dos piores alunos.
Um exame para o ingresso de alunos deveria SELECIONAR aqueles dispostos e que aceitam a MEDIAÇÃO UNIVERSITÁRIA para, ao final desse processo, ADQUIRIR conhecimento, habilidades e atitudes de sua COMPETÊNCIA e poder exercê-la como profissão focada no bem estar da sociedade. Os termos grifados acima foram feitos de propósito para promover a discussão.


Os principais pontos para discussão podem ser assim listados:
1. SELECIONAR – As seleções para o ingresso nas universidades conseguem discriminar na sociedade indivíduos que tenham um interesse claro pela formação profissional, independente de classe social, raça, credo, gênero ou ações afirmativas? Os cidadãos deste país têm claro o papel da Universidade no processo de sua formação profissional? A Universidade tem sido sistemática no seu papel de auto-esclarecimento para poder finalmente esclarecer esta população? O setor público/privado sabe reconhecer o valor de um profissional capacitado formado pela Universidade?

2. MEDIAÇÃO UNIVERSITÁRIA – O que é isto? Em qual desses dois mundos eu devo me inserir, ciência ou tecnologia? Nesta tal mediação devo me comportar com conformismo-inteligente ou com inconformismo-crítico ou devo criar um terceiro crítico-inteligente para não me comprometer? Os professores sabem exercer este papel de mediadores universitários?

3. ADQUIRIR – O professor X é muito bom, a aula dele é um espetáculo do PowerPoint/Transparência/Giz/Erudição, acho que aprenderei bastante nesta disciplina. Tenho a impressão de que aprendi mais na conversa com os colegas sobre o campeonato brasileiro do que na aula do professor X. Não consegui aprender nada na aula do Professor X pois não ficou claro para mim, nem o ponto de partida nem o de chegada, achei que sabia tudo pois fiquei bem colocada no exame para o ingresso na Universidade.

4. COMPETÊNCIA – Venho de uma família muito competitiva, sou competente? Sei tudo sobre este assunto, até mais do que os próprios professores, já posso competir? A Universidade está preparada para formar cidadãos melhores do que a geração atual? A Universidade está preparada para formar profissionais melhores do que os próprios professores? Preparei uma aula, um pouco fora da minha especialidade, com conteúdo bem atualizado e fiquei 2 horas falando para ninguém? Os alunos foram muito mal na prova de minha disciplina, isto é sinal de que esta geração é pior do que as anteriores ou seria culpa de eles não terem prestado atenção na minha aula? A prova do Professor X é discursiva, pois ele é contra provas de múltipla escolha, não mede nada. O Professor X é muito bom pois reprova quase que 40% dos alunos em média, e quem passa são raros os que passam com média acima de 7.

A predileção pelos ‘bons’ alunos sugere professores inseguros pelo tipo de ensino que aplicam? Quanto menor a exigência menor meu esforço pedagógico.
Uma pergunta muito importante para reflexão: Se nesses tempos de cotas, inclusão educacional, a universidade selecionar efetivamente os alunos que, independente da sua origem socioeconômica, estarão interessados em aprender a partir do BÁSICO exigido no segundo grau, atenderemos esses alunos com a mesma "competência"? Saberemos nos adaptar aos novos cidadãos, dando-lhes a formação que eles tanto necessitam?

sábado, 2 de maio de 2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Prêmio Mérito Universitário

Meu filho, Bruno formou-se em administração pela Universidade Federal de Santa Catarina no último dia 17 de Abril (2009). Uma cerimônia muito bonita e de grande emoção para os formandos e para os pais. Ao longo desses 23 anos na UFSC, tive a oportunidade de frequentar mais de 20 cerimônias de formatura e sempre acompanhei com curiosidade os alunos com melhor desempenho acadêmico.
Na sua maior parte esses prêmios são oferecidos aquele aluno ou aluna que jamais tirou notas baixas, nunca teve qualquer dificuldade para aprender e atingiu um indice acima dos demais. As vezes a diferença entre os valores do primeiro para o segundo colocado são tão insignificantes que ficaria difícil distinguí-los, culpa provavelmente daquela gripe ou daquele momento de distração, provocado pelo rompimento de uma relação afetiva.
Ao assistir a este rito universitário de grande significado para os formandos, fui assombrado novamente com a entrega do mérito universitário e fiquei pensando se por conta desta disputa, esses alunos precisariam dos professores para promover seu aprendizado. Sou levado a pensar que neste mar de informações, patrocinado em grande escala pela Internet e seus cursos online, a própria Universidade seria dispensável. Se admitirmos a hipótese provável da Universidade ser dispensável, porque a concessão do prêmio, aos que independem dela?
Por outro lado, nesta mesma Universidade hipotética, uma grande maioria inicia o curso de graduação ou pós-graduação, tira notas baixas nas etapas iniciais e gradativamente melhora seu desempenho, principalmente nas etapas finais ou profissionalizantes dos cursos,incluídos aí os estágios, os internatos, e a iniciação científica. Para esses alunos, a Universidade teve um papel fundamental contribuindo para sua formação e desta forma, premiando aquele que melhor se beneficiou de sua estrutura física e humana, seria engrandecer seu sucesso.
No gráfico acima temos uma interessante comparação entre as alunas Maria e Julia (nomes fictícios). Grande parte dos professores tem predileção pelo perfil da Maria, mas o perfil de Julia depende mais da excelência dos professores de uma Universidade. Vamos discutir os prêmios Universitários?

Post numero zero


O propósito deste blog é o de promover a discussão de temas ligados a Ciência e a Educação, ambos, importantes na construção das noções de cidadania, ou seja, dos direitos e dos deveres de TODOS habitantes deste país. Estamos preparados para este desafio? Como nos posicionamos no dia-a-dia nas relações pessoais? Que idéia temos do futuro? Temos consciencia das nossas responsabilidades? Como construiremos o futuro de nossos filhos, netos e de seus descendentes ?

Na minha opinião, a expansão da educação formal e daquela relacionada diretamente a ciência e a tecnologia formarão os pilares de sustentação de uma nova sociedade.

Os comentários serão mediados e aparecerão após a liberação.