"No Brasil, a elite encaminhou as coisas para ser elite,
desprezando o povo e assim pensa que se moderniza:
desprezando ou não sabendo que a chamada
modernização passa pela destruição dela própria.
A única maneira de essa elite encontrar
uma racionalidade
é deixar de ser elite e tornar-se cidadã".
Raymundo Faoro

Seja Bem-Vindo

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Prêmio Mérito Universitário

Meu filho, Bruno formou-se em administração pela Universidade Federal de Santa Catarina no último dia 17 de Abril (2009). Uma cerimônia muito bonita e de grande emoção para os formandos e para os pais. Ao longo desses 23 anos na UFSC, tive a oportunidade de frequentar mais de 20 cerimônias de formatura e sempre acompanhei com curiosidade os alunos com melhor desempenho acadêmico.
Na sua maior parte esses prêmios são oferecidos aquele aluno ou aluna que jamais tirou notas baixas, nunca teve qualquer dificuldade para aprender e atingiu um indice acima dos demais. As vezes a diferença entre os valores do primeiro para o segundo colocado são tão insignificantes que ficaria difícil distinguí-los, culpa provavelmente daquela gripe ou daquele momento de distração, provocado pelo rompimento de uma relação afetiva.
Ao assistir a este rito universitário de grande significado para os formandos, fui assombrado novamente com a entrega do mérito universitário e fiquei pensando se por conta desta disputa, esses alunos precisariam dos professores para promover seu aprendizado. Sou levado a pensar que neste mar de informações, patrocinado em grande escala pela Internet e seus cursos online, a própria Universidade seria dispensável. Se admitirmos a hipótese provável da Universidade ser dispensável, porque a concessão do prêmio, aos que independem dela?
Por outro lado, nesta mesma Universidade hipotética, uma grande maioria inicia o curso de graduação ou pós-graduação, tira notas baixas nas etapas iniciais e gradativamente melhora seu desempenho, principalmente nas etapas finais ou profissionalizantes dos cursos,incluídos aí os estágios, os internatos, e a iniciação científica. Para esses alunos, a Universidade teve um papel fundamental contribuindo para sua formação e desta forma, premiando aquele que melhor se beneficiou de sua estrutura física e humana, seria engrandecer seu sucesso.
No gráfico acima temos uma interessante comparação entre as alunas Maria e Julia (nomes fictícios). Grande parte dos professores tem predileção pelo perfil da Maria, mas o perfil de Julia depende mais da excelência dos professores de uma Universidade. Vamos discutir os prêmios Universitários?

6 comentários:

  1. Com certeza isto tem de ser levado em consideração, principalmente em relação à universidade. Visto que, é fácil ensinar e qualificar quem já vem com alta capacidade de aprendizagem e aplicabilidade, mas difícil é ensinar a quem tem dificuldades.

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  2. Valeu Pádua. Aumentar a inclinação dessa curva é o grande desafio de todos nós. É esse um dos quesitos de maior importância no ENADE.
    E parabéns pelo Bruno.

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  4. Pádua, Parabéns pela iniciativa... criar é umblog é muito legal como maneira de expressão, agora, a manutenção é trabalhosa. Boa sorte!
    Gostei que mudasse para um blog pessoal, fica melhor do que um blog da PG, se quiseres colocar opiniões pessoais.
    Abraço e toca ficha!

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  5. Olá Pádua,

    A provocação que você apresenta é interessante e pode ser discutida de vários pontos de vista. Vou comentar alguns que me ocorrem, mas antes...”muka-muka”. Penso que seria interessante e divertido instituir o “Prêmio Inclinação-da-Reta” ou o “Prêmio Progresso Acadêmico”, e já imagino um jovem criativo e amigo tanto da estatística/simulações matemáticas quanto do repouso, bolando as melhores estratégias para conseguir os “slopes” mais íngremes com o menor dispêndio de energia. Todo agente de reforço (ou prêmio) desencadeia estas elocubrações e este é talvez o mais significativo valor adaptativo de se possuir um neocortex hipertrofiado.
    Brincadeiras à parte, a situação hipotética que você apresenta tem base na experiência concreta: os prêmios estão reservados para certo tipo de perfil acadêmico que quase prescinde da universidade como ela é hoje. Como a vemos. Como queremos vê-la. Os “premiadores” simplesmente reforçam os comportamentos/perfis “desejáveis”, segundo esta visão de Universidade e de ensino Universitário.
    Neste meu comentário vai uma primeira preocupação: qual é o perfil dos premiados atualmente? Os parâmetros expostos no gráfico (Envolvimento determinado pelas ações de teorizar, aplicar, etc...) de progresso que você apresenta são mesmo usados para nortear as atividades dos alunos ao longo dos cursos? Os reforçadores reforçam que comportamento? Boa parte dos cursos é pensada e produzida como agentes formadores de mão de obra para o mercado. Falamos isso com o orgulho de quem faz “realpolitik” .
    Vira e mexe e alguma revista estampa os atributos que o “mercado” busca, e quem não está “ligado” nestes clamores vira desde “iludido”, maluco-beleza, até perdulário com o dinheiro público (e certamente desempregado ou não empregável). Então se o nosso modelo universitário tem este viés, é natural que premiemos aqueles que se conformam com ele. A Maria será, e deve ser premiada, pois ela atende melhor, mais previsivelmente (e com menos gasto energético) aos objetivos da instituição. As relações custo-benefício, tão caras às leis do mercado, devem vigorar aqui também. Mais ainda os comportamentos da Maria, que merecem ser reforçados, incluem a estabilidade, a excelência contínua, a imutabilidade, a conformidade com os objetivos da instituição. E a Julia, bem..... as leis do mercado são bem claras para as Julias. Valeu o esforço, mas não tem prêmio aqui para isso de segundo lugar. As Marias, as Julias e seus professores celebrarão isso com champagne ao som do “the eye of the tiger” (lembra do Sylvester Stallone na escadaria, no primeiro Rocky?) no final do curso.
    Será que a Maria foi mesmo premiada por envolvimento com habilidades cognitivas que, usualmente conduzem mais à mudança, à inconformidade? Eu duvido, pelo menos no modelo de universidade que temos agora.
    Mas e se o principal papel do curso é produzir mudança? E se a universidade só faz sentido como ambiente que leva à transformação, ao trânsito, à mobilidade? Se as habilidades técnicas (e com isso o mercado) são vistos como meros subprodutos (e não objetivos) do processo? Como seriam as formas de conduzir os cursos, as “habilidades” a serem reforçadas, os parâmetros de avaliação? Talvez o gráfico que você apresenta estaria correto, mas Julias e Marias provavelmente buscariam outros agentes reforçadores ao final de um curso assim. E comemorariam ambas, com sensações similares (de não serem produtos, mas gente) e em pé de igualdade, bebendo o que lhes conviesse, ao som que bem lhes desse na telha.
    Obrigado, Pádua, pela provocação. Há muito que falar sobre isso. Especialmente sobre a frase “Grande parte dos professores tem predileção pelo perfil da Maria, mas o perfil de Julia depende mais da excelência dos professores de uma Universidade.”. Do que dependerá o progresso de Júlia? Qual o papel dos professores? Como conciliar as Julias e as Marias?
    Fica prá próxima.

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  6. Este assunto é bastante interessante pois, penso que deveria ser avaliada a evolução do aluno, ou seja, o que ele cresceu durante o período na universidade! Porque caso o aluno traga consigo uma grande "bagagem" não quer dizer que ele aprendeu tudo na universidade, logo não seja tão merecedor do prêmio! Mesmo porque acredito que não é somente a nota que define o aluno e sim seu posicionamento como pessoa, caráter e sua responsabilidade!

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